Delegacias da região enfrentam superlotação e estrutura precária

A Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do Paraná (Seju), em 2013, divulgou um estudo apontando que 164 das carceragens das delegacias da Polícia Civil no estado estão superlotadas, esse número corresponde a 68% do total de cadeias. Frente a situação, ano passado, mais de 50% dos policiais da PC entraram em greve reivindicando melhoras no cenário. Entretanto, nada mudou até agora. Um reflexo da atual situação é o quadro visto nas delegacias da região Centro Sul do Paraná, como nas cidades de Imbituva, Irati, Mallet, Prudentópolis, Rebouças e Teixeira Soares. Em todas elas, o número de presos é superior ao limite máximo imposto pelas dimensões físicas do espaço.



Além disso, segundo os trabalhadores da área, a estrutura disponível para os policiais costuma ser precária e o efetivo não é suficiente para a demanda de tantos presos. “A função do policial não é cuidar de presos, essa é a função do agente penitenciário, mas pela falta de pessoal os policiais acabam cumprindo essa função”, explica a delegada de Irati, Eliete Kovalhuk. Todos esses fatores aliados resultam no grande número de fugas que acontecem na região. Todas as cidades citadas anteriormente tiveram no mínimo um caso de fuga ou tentativa de fuga por parte dos presos nos últimos anos. Algumas chegam a ter mais de 20 casos por ano, como na cidade de Irati, em 2014.
O caso que escancara a atual situação é o de Everton Evandro Vieira, homem suspeito de praticar os crimes de tráfico de drogas, roubo e porte ilegal de arma. Evandro havia sido preso na delegacia de Prudentópolis e escapou, cerca de 20 dias depois foi capturado em Rio Azul e preso em Rebouças, de onde novamente conseguir escapar.

Rebouças
Na quarta-feira, dia 13 de maio de 2015, o preso Everton Evandro Vieira fugiu da cadeia da Delegacia de Rebouças. O preso se utilizou de um buraco recém tampado para operacionalizar a fuga. O local havia sido escavado por presos no começo da semana, mas a Polícia Civil conseguiu interceptar a ação e colocou concreto no lugar e um cadeado. Entretanto, Everton estourou o cadeado e fugiu pelo buraco, já que o concreto colocado ainda não havia secado.
De acordo com o delegado do município, Eduardo Mady Barbosa, a estrutura deficitária do local auxilia na fuga dos presos, já que o espaço não foi projetado para o número de detentos que hoje se encontram no local. 27 pessoas estão presas em um espaço que, em tese, deveria ser para apenas 12 pessoas. Esse fator aliado ao reduzido número do efetivo policial também cria outros problemas, como a situação de um encarcerado em Rebouças, considerado de alta periculosidade, que, segundo a polícia, deveria estar isolado dos outros presos, mas, pelas limitações impostas pela estrutura e efetivo, ele acaba ficando junto aos outros presos. Já foi requisitado pela Polícia Civil de Rebouças a transferência desse preso, entretanto, por ora, o detento continua na mesma delegacia.*Com informações Najuá.


Prudentópolis
Everton Evandro Vieira, o preso que no dia 13 de maio havia escapado da cadeia de Rebouças, menos de um mês antes também havia fugido da Delegacia de Prudentópolis, a fuga aconteceu pelo solário da delegacia durante a madrugada do dia 24 de abril de 2015. Mais presos não escaparam na data graças ao policial que estava de plantão e percebeu a movimentação.

Segundo o delegado Osmar de Albuquerque Pontes Júnior, o local está superlotado, até com presos já condenados, mas que ainda não foram transferidos para as penitenciárias, já que elas também operam em sua grande maioria com capacidade superior a ideal. Para o delegado, essa questão da superlotação motiva ainda mais o preso fugir. Ainda nesse ano, em fevereiro, aconteceu uma tentativa de fuga, onde presos, utilizando barras de ferro da própria cela, começaram a cavar um buraco que dava de encontro à rua. A ação criminosa só não teve sucesso devido ao policial que estava na delegacia que percebeu uma movimentação e sons estranhos no local e constatou a tentativa.

Irati
A última fuga na Delegacia de Irati foi registrada no dia 16 de novembro de 2014, quando dois presos cortaram a grade do solário e danificaram as câmeras de segurança da cadeia para conseguirem concretizar a fuga. Depois disso, os presos fizeram uma “torre humana” para terem acesso ao lado externo da Delegacia. Um terceiro preso também tentou fugir, mas foi impedido pelos investigadores.
Um dos casos que mais chamou a atenção nos últimos anos foi a fuga de oito presos no dia 08 de dezembro de 2013. A fuga aconteceu durante o banho de sol dos detentos. Na ocasião, somente dois funcionários estavam na delegacia. Os detentos serraram a grade e depois fizeram uma “escada humana” para conseguir pular o muro da delegacia. A cadeia construída em 1954 para receber no máximo 30 detentos, hoje abriga 80. Segundo a Delegada Eliete Kovalhuk, a estrutura da delegacia hoje é deficitária e antiga. “O nosso dever é tentar impedir fugas, mas aqui não é 100% seguro, justamente por causa da estrutura antiga e que já tem muitos rombos devido a outras fugas”, afirma Eliete.

Em dezembro de 2014, foi discutida a possibilidade de construir uma nova cadeia pública fora da área central de Irati. Segundo a assessoria de imprensa da Polícia Civil em Curitiba, há um projeto que prevê melhorias na Delegacia de Irati, mas ainda não há nenhuma informação oficial sobre a aprovação e abertura de licitação para o mesmo. “Existem projetos para criação da Delegacia Cidadã, sem carceragem, para atender a população, mas há um impasse com terreno porque também está prevista a construção de uma cadeia pública, mas nada está definido ainda não há previsão para as mudanças”, explica a Delegada Eliete.

Mallet
Pouco mais de um mês atrás, na madrugada do dia 7 de abril, houve uma tentativa de fuga dos presos no local. Eles cerraram as grades e foram em direção ao corredor da carceragem, entretanto, o investigador de plantão, observou através de câmeras de segurança (sistema não presente em todas as delegacias) a tentativa de fuga e, com o apoio da Polícia Militar, frearam a tentativa. Hoje, a cadeia do município tem capacidade para 16 presos, mas conta com 21 encarcerados.
Segundo o escrivão Erik Bobato, a estrutura da delegacia está em um estado classificado como meio termo, “não posso dizer que está excelente e nem péssima, o básico para desenvolver o trabalho nós temos”. Atualmente, Mallet não possui delegado na Comarca, tendo que se reportar ao delegado de União da Vitória. Essa falta de delegado e, no geral, um contingente reduzido da Polícia Civil de Mallet  é apontado como o principal ponto negativo da atualidade.

Teixeira Soares
A última fuga registrada em Teixeira Soares foi em fevereiro de 2010. No dia 15, três presos arrebentaram o cadeado da cela e a grade de proteção do solário e empreenderam fuga. Os presos tinham a posse de uma serra para ferro, o que facilitou o trabalho. Já no dia 18, aproveitando a fuga anterior e os danos causados na Delegacia, um homem saiu da cela pelo mesmo local de onde haviam saído seus ex-companheiros.
Segundo o delegado Rodrigo da Silva Cruz, a estrutura é considerável, mas não é a mais desejada. Ele afirma que o prédio dá conta de receber os presos provisórios, mas não é uma estrutura que possa abrigá-los por muito tempo. A Delegacia de Teixeira Soares tem capacidade para abrigar 9 presos, mas hoje abriga 14.

Imbituva
Em 2014, o Ministério Público do Paraná chegou a interditar a cadeia de Imbituva, devido a sua superlotação. O espaço que deveria comportar apenas oito presos se encontrava com 50, sendo mais de 20 deles já julgados como culpados, mas que não foram transferidos, como prevê a lei. A interdição colocava regras como a não admissão de novos presos naquela cadeia e transferência imediata dos presos que já deveriam estar na penitenciária. Mesmo durante o período de interdição, no dia 1 de dezembro, um preso conseguiu escapar do local através do solário do presídio. O local possui câmeras, mas no momento da fuga não havia ninguém as monitorando. A situação pouco mudou nos primeiros meses após o decreto do MP, então os presos fizeram dois motins nos primeiros meses de 2015, com isso, grande parte dos detentos já julgados foram transferidos, diminuindo o número de presos, mas sem chegar aos oito, número indicado como ideal para o espaço.


Raphael Gierez e Ana Paula Schreider/ Hoje Centro Sul