A superstição por trás do mês de agosto



Agosto é o mês do desgosto’. Quem nunca ouviu a famosa frase que se refere ao oitavo mês do ano? Mito ou verdade, agosto está cercado pelo misticismo e superstições. No Brasil, a tradição de se evitar casamentos durante o mês é forte e o hábito foi herdado das mulheres portuguesas. Na crença delas, casar em agosto significava ficar só, sem lua-de-mel e até viúva. Tudo isso, porque o oitavo mês do ano representava a época das expedições, onde os homens estavam no mar à procura de novas terras. Na Argentina, há quem não lave a cabeça durante o mês inteiro. Segundo os argentinos, quem lava a cabeça durante esse período está chamando a morte. Mesmo que muitos digam não acreditarem no azar de agosto, o número de pessoas que evita casar, fazer grandes negócios ou mudar durante este mês é grande.

@Thaís Siqueira

A verdade é que muitos preferem não discutir com a tradição e muito menos desafiar o sobrenatural. Dulce Gonçalves Batista é Mãe de Santo e dona de duas lojas: uma de objetos místicos e outra de noivas em Irati. Para ela, apesar daqueles que acre- ditam no azar, há os que estão desmistificando essa história.

“Algumas pessoas têm convicção de que essas datas dão azar mesmo. Então, não tem como mudar essa forma deles pensarem. Alguns procuram banhos de descarrego ou proteção, outros procuram pimenta, pedras da sorte, tem aqueles que querem fazer um incensário, defumação, para purifi car o ambiente, para estarem livres do azar. Mas a maior parte das pessoas que nós vemos hoje em dia está desmistifi cando essa coisa do azar. Tem muitas pessoas que já não acreditam mais nisso”, afirma.

Ela explica que as pessoas não costumavam casar no mês de agosto, mas hoje em dia essa realidade está mudando. “Alguns anos atrás, cerca de uns cinco anos, quase não tinha casamento para o mês de agosto. Mas de uns tempos pra cá, nós temos várias noivas casando nesse mês. E eu acho que essa regra está sendo quebrada. É uma mudança de paradigma. As pessoas estão acreditando mais nas coisas positivas e deixando as negativas de lado”, completa. Apesar disso, ela conta que muitas pessoas procuram casar nas chamadas luas fortes, por temerem que o casamento não dê certo no futuro.

“É claro que algumas pessoas procuram casar em uma lua boa, como a nova, crescente e cheia. Quando a lua é minguante, que é uma lua mais fraca, algumas pessoas evitam casar nessa época”, diz. As chamadas luas fortes representam momentos de início de novos projetos, ple- nitude e realizações. Já a lua fraca, minguante, representa a morte que antecede uma nova vida e, segundo aqueles que creem, é um momento para manter a calma e não iniciar nenhuma atividade. Neste ano, no mês de agosto, a lua minguante ocorre entre os dias 17 e 24.

O estudante de mestrado Rafael Bozzo Ferrareze é supersticioso e conta quais são os rituais que segue para atrair proteção. “Como superstição, eu costumo tomar banho de sal grosso para retirar a energia negativa, depois eu tomo banho com ervas para fechar o corpo e aliviar. Gosto de acender incenso e evito passar embaixo de escada e quebrar espelho também. Eu uso sempre escapulário, olho grego. Essas coisas eu não abro mão. Eu levo isso mais a sério do que os próprios rituais”, afirma.

Rafael acha que os rituais e o uso de alguns objetos trazem a sensação de paz.

“Quando eu sei que estou próximo de pessoas muito carregadas, o banho de sal grosso me ajuda. Eu sinto que isso relaxa. Por exemplo, eu não costumo sair de casa sem o escapulário, porque eu acho que é uma proteção. O olho grego contra a inveja é algo que eu também gosto de usar. Mas independente disso, são coisas nas quais eu acredito, por isso, eu acho que funciona”, completa.

Ele não acredita no azar como algo inerente, mas como consequência de pen- samentos negativos. “Geral- mente, as pessoas costumam dizer: você tem aquilo que você merece. Eu acredito muito na lei da semeadura, você colhe o que plantou. Eu acho que o azar está envolvido com isso. Você nem sempre ganha e nem sempre perde. Há sempre um balanço. Eu não acredito no azar em si, eu acredito na consequência do azar”, diz.

Dulce tem o mesmo pen- samento. Ela acredita que a força do pensamento pode atrair tanto coisas boas quanto ruins.

“Na minha opinião, o azar está na mente e coração das pessoas. Elas podem atrair a sorte ou o azar com o poder do pensamento. Se a pessoa pensar em coisas boas, posi- tivas, não existe dia ruim. Eu acredito muito na forma de pensamento, que tudo o que se deseja se concretiza. Se as pessoas vivenciassem mais esse estado de motivação, melhorariam a auto-estima, essas crendices até desapareceriam”.

Misticismo

A Mãe de Santo Dulce Gonçalves Batista é prati- cante da religião Umbanda e explica que quando um frequentador de seu terreiro precisa de auxílio, ela dá orientação espiritual através da leitura das cartas.

“Eu gosto muito dessa questão do misticismo. Eu oriento espiritualmente os meus fi lhos, quando há uma necessidade, através dos tarôs. Nós temos vários, como o dos anjos, dos orixás e o cigano, que tem orientações positivas, de auto-estima, para elevar o emocional e trabalhar o que a pessoa quer”, afirma.

Segundo ela, algumas pessoas procuram a religião para obter simpatias ou seguir rituais para conquistar seus objetivos, porém, ela alerta que o intuito da Umbanda não é esse.

“Hoje em dia, as pessoas estão com uma carência espiritual e religiosa muito grande. A nossa casa é muito procurada nesse sentido, elas buscam um fortalecimento espiritual. Muitos querem arrumar um trabalho, a vida emocional, um casamento, encontrar a pessoa amada. Na nossa casa, a gente sempre procura fortalecer o ser humano e despertar a fé. Quando o ser humano está em equilíbrio, os problemas se tornam mais fáceis. Tem muita procura sim, mas nós orientamos as pessoas a res- gatarem a fé e se fortalecerem, para que elas não tenham as simpatias como uma muleta. Para que ele não fi que depen- dente daquilo”, finaliza.

Por Kyene Becker