Restos de construções afetam meio ambiente em Irati

Os resíduos das construções civis têm sido alvo de diversas críticas, estudos e projetos, pois a regulação existe, mas a fiscalização é falha. Estima-se que em uma obra comum, 20% de todo o material acaba sendo jogado fora. Isso resulta num acúmulo de lixo que é depositado e interfere no meio-ambiente. Em Irati, os detritos de construções  podem até mesmo ser um dos responsáveis pelas constantes enchentes.
LixoUma das entidades que têm desenvolvido estratégias para reduzir o acúmulo e otimizar o aproveitamento dos resíduos de construções é o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (CREA-PR). Para o engenheiro e conselheiro da instituição em Irati, Dagoberto Waydzik, a questão dos resíduos sólidos necessita de gestão e gerenciamento apropriado. “O problema é que existe uma grande perda de materiais na construção civil”, explica.
Dentre estes resíduos, os principais são de areia, tijolo, brita, madeira e ferro. Isso, segundo Waydzik, está causando impactos na natureza e por isso haveria necessidade de uma legislação apropriada para a coleta e destino desses restos. “Essa legislação existe a nível estadual, mas a fisca-lização é ineficiente”, garante o engenheiro.
Waydzik explica que o ideal seria uma fiscalização específica para cada município por conta das particularidades que cada um apresenta. Em Irati, essa especificidade são as enchentes, de acordo com o conse-lheiro do CREA. “Parte dessas enchentes são causadas pelos resíduos sólidos”, afirma. Isso, pois um grande percentual dos restos de construção – principalmente areia e brita – vão para os bueiros e são levados para os córregos. Dessa forma, acontece o assoreamento desses meios fluviais e, consequen-temente, acabam acontecendo enchentes quando os rios não suportam a vazão.
A ineficiência da mão de obra é apontada como um dos motivos para o grande desperdício que há nas obras, segundo o engenheiro. “Mais de 80% da mão de obra nacional trabalha na informalidade”, garante Waydzik.
Regularização

Dagoberto Waydzik defende que a Prefeitura, através da Câmara Municipal, deveria realizar reunião com a Associação Regional de Engenheiros Civis de Irati (Areci) para que esta situação fosse regularizada. Para que houvesse a regularização, o primeiro passo seria a confecção de uma lei dispondo sobre a correta destinação e utilização das sobras de construção. Mas para esse ponto fosse efetivo, a fiscalização deveria ser bem executada, segundo Waydzik. “As caçambas da cidade estão prestando um bom serviço, mas não há um local específico para que os detritos sejam depositados. Assim, algumas empresas jogam esse lixo em pátios próprios, mas outras o fazem em terrenos baldios”, afirma.
É justamente este acúmulo de lixo que causa o impacto ambiental, entre eles o comprometimento da paisagem. “Há lugares em que é possível ver morros de resíduos o que deixa a cidade menos bonita”, aponta o engenheiro. Além disso, o acúmulo também pode comprometer o tráfico de veículos e de pedestres. “Isso porque o pessoal não respeita a legislação vigente que diz que o passeio não pode ser comprometido pelas obras”, comenta. Outro impacto que a falta de regula-rização desta matéria causa é a proliferação de animais peço-nhentos entre as pilhas de lixo.

 
Fiscalização

O CREA-PR formou uma comissão que tem a atribuição de fiscalizar em relação ao destino dos resíduos, não só de construções, mas também de hospitais, indústrias, entre outros. “Os órgãos ambientais deveriam fazer isso, mas às vezes não têm corpo técnico para executar essa função”, diz o conselheiro do CREA.
Apesar disso, a entidade não tem poder de impor sanções legais àqueles que estiverem irregulares quanto à destinação dos resíduos. “Fazemos notificações e aplicamos multas aos responsáveis técnicos pelas obras. Quem deveria realizar o embargo são os órgãos ambientais e a prefeitura”, afirma.
Reciclagem

Segundo o engenheiro, um dos motivos da grande quantidade de resíduos sólidos de construções é o crescimento irregular das cidades. “Têm muitas construções em pouco espaço de terra e esses desperdício poderia ser perfeitamente reciclado”, afirma.
A Europa é um exemplo em reciclagem de resíduos de construção. Lá, os restos de matérias de construção são moídos e a partir disso é feito um pó que posteriormente é usado em base de asfaltos. Mas, além disso, a madeira pode ser prensada e reutilizada, o ferro pode voltar para a siderurgia a fim de ser reaproveitado. “Solução existe, mas é preciso legislação e execução”, afirma Waydzik.
O CREA-PR lançou uma cartilha.
Gestão Pública

O secretário municipal de Meio Ambiente e Ecologia, Osvaldo Zaboroski confirma que não há regularização para a questão dos resíduos de cons-truções em Irati. Ele, porém, preferiu não se aprofundar no tema visto que no próximo dia 13 a Secretaria de Estado e Meio Ambiente (SEMA) irá enviar     diretrizes sobre os resíduos sólidos para todas as pastas municipais.
O próprio chefe da SEMA, Luiz Carlos Cheida, afirmou em evento público no último dia 1º que a lei de resíduos sólidos 12.305/2010 - que completou três anos na última sexta-feira (02) - não está sendo cumprida no país.

Texto e fotos: Guilherme Capello