Diversificação na fumicultura tem se mostrado eficiente na região

Há algum tempo, o governo federal vem buscando alternativas para a redução de produtos derivados do tabaco no Brasil. Além disso, a própria plantação do fumo tem sido questionada graças a grande quantidade de agrotóxicos utilizado na safra e também pelo fato de que a plantação de fumo gera monocultura.
Fumo2Para isso, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) lançou, no começo do ano passado, um programa para a diversificação das propriedades de fumicultura. No Paraná, a Emater foi a responsável por desenvolver este programa e, nesta semana, entre segunda e quarta-feira (24 a 26), foi desenvolvido um seminário em Irati para avaliar o desenvolvimento do mesmo em 10 municípios da região Centro Sul. No total, 960 famílias de fumilcutores fizeram parte do projeto na região.
O delegado do MDA no Paraná, Reni Denard, afirma que é necessário que os agricultores passem a depender menos do fumo e, consequentemente, possam auferir renda de outras atividades produtivas “de forma que se um dia a fumicultura não der mais os resultados econômicos que está dando até hoje, os agricultores não fiquem sem renda”, afirma.
Uma das principais características para o bom desenvolvimento da agricultura familiar é a diversificação de culturas na propriedade rural para que os produtores não dependam da monocultura. “É muito arriscado ficar na dependência de uma única cultura agrícola, tanto no sentido de eventuais problemas climáticos, mas principalmente nos problemas de mercado”, completa Denard.

Resultados
A gerente regional da Emater de Irati, Lúcia Wisniewski diz que, através de um planejamento de ações, muitas famílias de fumicultores passaram a investir na produção de leite, de grãos como feijão, soja e milho. Outras famílias dedicaram parte de sua propriedade para a olericultura com finalidade de vender os produtos para programas institucionais como Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
Outras atividades desenvolvidas foi capacitação em tratorismo para filhos de fumicultores, eletricismo, corte e costura, panificação, entre outras atividades que estão com déficit no meio rural.
Segundo Lúcia, das 960 famílias que fizeram parte do projeto, aproximadamente 70% ficaram extremamente satisfeitas com os resultados. “Alguns ainda não querem diversificar. Nós damos essa liberdade, pois eles têm a livre opção. Mas os que aceitaram o programa estão muito satisfeitos”, afirma.

Saúde
De acordo com o chefe da 4ª Regional de Saúde, João Almeida Júnior, esta é uma parceria inédita que está sendo realizada com a Emater e Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SEAB), no qual será feito um monitoramento de 150 famílias produtoras de tabaco. “Nós queremos fazer um diagnóstico de como está a situação destas famílias, quais os possíveis problemas e consequências dessa cultura na questão de meio ambiente, utilização de agrotóxico, produção, entre outras questões que envolvem o plantio do fumo”, afirma Almeida.
Com embasamento nesses dados, será desenvolvido um diagnóstico dos problemas acarretados pela fumicultura na região e partir disso desenvolver parceria com os municípios para que essas famílias tenham atendimento relacionado a essas questões.
Nesse processo, além de recursos financeiros, a 4ª Regional de Saúde entra no projeto fazendo capacitações com os técnicos de saúde dos municípios, tanto em vigilância em saúde quanto na atenção primária. “Estamos fazendo capacitações para as Equipes de Saúde da Família que atuam nas proximidades ou nas regiões onde essas famílias estão”, explica Almeida. Ele ainda afirma que a Regional possui medicações para os municípios caso seja necessário a utilização das mesmas.
A principal preocupação da 4ª Regional de Saúde é a forma na qual as famílias produtores de tabaco estão trabalhando com esta cultura e grande quantidade de agrotóxico utilizado na safra, “de que forma eles usam equipamentos de proteção e o que nos preocupa muito é a proximidade das casas, de onde são preparados os alimentos, das estufas de fumo. Quando a casa e a estufa são muito próximas, muitas vezes a família acaba aspirando muito agrotóxico”, aponta Almeida.

Convenção quadro
A Convenção Quadro para Controle do Tabaco é o primeiro tratado internacional sobre saúde pública. Proposto durante a 52ª Assembléia Mundial da Saúde da OMS, em 1999, ela foi aprovada por unanimidade em 2003, durante a 56ª Assembleia.
É uma iniciativa da OMS, negociado por 194 países motivado pelo amplo reconhecimento dos graves danos sanitários, sociais e econômicos decorrente do uso do tabaco.
Trata-se de um compromisso internacional pela adoção de medidas de restrição ao consumo de cigarros e outros produtos derivados do tabaco. Os países membros tiveram a primeira reunião com outros países interessados na convenção, onde se estabeleceu os protocolos internacionais que visaram encontrar culturas alternativas de plantio para os produtores de fumo e assim garantir a atividade econômica dessa população.
A Convenção Quadro contém outras iniciativas para controlar o tabagismo: proibição da propaganda; educação e conscientização da população; proibição de fumar em ambientes fechados; controle do mercado ilegal de cigarros; tratamento da dependência da nicotina; inserção de mensagens de advertências sanitárias fortes e contundentes nas embalagens dos produtos de tabaco; regulação dos produtos de tabaco quanto aos seus conteúdos e emissões, entre outras.

Texto: Guilherme Capello, da Redação