Feira Agroecológica: alimentos livres de agrotóxicos e com valor acessível

[caption id="attachment_25262" align="aligncenter" width="336" caption="Paulo Lima deixou o cultivo de fumo para se dedicar à agroecologia"][/caption]

Irati - Alimentos agroecológicos. Este termo designa aqueles produtos que são cultivados livres de qualquer tipo pesticidas, praguicidas, defensivos agrícolas, ou seja, qualquer tipo de agrotóxico. Quando comprados em mercados comuns, de fato eles são mais caros que o normal. No entanto, em Irati, há a Feira Agroecológica, onde é possível encontrar esses alimentos por preços acessíveis.




[caption id="attachment_25263" align="alignleft" width="300" caption="Além de frutas, verduras e legumes, a Feira oferece doces, bolachas, compostas, entre outros"][/caption]

Localizado na Vila São João, o Armazém Solidário do Instituto Equipe de Educadores Populares (IEEP) é o local onde a feira acontece todas as quartas-feiras das 9 às 17 horas.
Todos os agricultores que vendem seus produtos na feira precisam ter uma certificação em sua propriedade de que aquele alimento é agroecológico. São formados grupos que fazem parte da Associação Assis e é feita uma escala semanal para que todos estes grupos possam comercializar seus produtos na Feira Agroecológica. "Variamos os grupos a cada semana", comenta uma das organizadoras da Feira, Fernanda Popoaski.
Atualmente, cerca de sete grupos participam dessa escala para comercializarem seus produtos. Fernanda explica que é preciso dar a oportunidade para todos os grupos participarem no começo dos meses, que é quando há maior fluxo de consumidores. "Nós tentamos variar para que todos os grupos tenham a possibilidade de participar nesta época", explica.
Ainda que este período seja mais lucrativo, a Feira também tem aqueles clientes cativos, que todas as quartas-feiras estão presentes comprando suas frutas, verduras, compotas, entre outros produtos naturais.
Todos os produtos vão para a feira através de um romaneio feito pelos próprios grupos. A partir disso o IEEP confere os alimentos para que seja atribuído um valor àqueles produtos. Fernanda afirma que um dos benefícios para os agricultores é que o Instituto se baseia no preço pago pelo Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e paga este valor aos produtores. Isso faz com que a quantia paga seja superior ao que os mercados comuns oferecem e, como o IEEP não trabalha com margem de lucro, o preço também chega mais barato aos consumidores. "Hoje em dia, o alimento agroecológico que vem de agriculturas familiares está se tornando um comércio de alto lucro e é isso o que nós estamos tentando quebrar, potencializando o alimento, fazendo que agricultor gere renda, mas que esta renda venha dentro de uma economia solidária. Nós vamos pagar o valor correto ao agricultor sem ter intermediação, ou seja, retiramos o atravessador, para que essa cadeia de produção seja totalmente limpa" explica a organizadora da Feira.
Todo o valor que é vendido volta para o agricultor. O Instituto Equipe não fica com nenhum lucro provindo da Feira. A única verba que o IEEP precisa é para a confecção de rótulos para alguns produtos em conserva.
Os produtos em conserva, compotas, sacos de erva de chimarrão, entre outros não perecíveis que sobram, são pagos ao produtor, indiferente se ficou em estoque ou não. Assim, esses produtos vão para a feira na próxima semana.
Já em relação aos alimentos perecíveis, Fernanda diz que não é feita a "quebra de feira", ou seja, eles não baixam os preços no fim da feira. "Se, por exemplo, nós fizéssemos essa quebra de valor no final da tarde, todo mundo ia esperar para vir nesse horário. Nós pagamos o valor na íntegra para o agricultor", diz.
Os alimentos perecíveis que sobram, geralmente são comprados pelo próprio Instituto Equipe. "As pessoas que trabalham no IEEP e os voluntários que trabalham na feira se alimentam aqui na sede. Então nós procuramos sempre potencializar esses alimentos agroecológicos. Nós almoçamos todos os dias aqui, sendo assim, toda nossa equipe se alimenta no Instituto, por isso nós procuramos fazer essa compra semanal do instituto aqui na própria feira", comenta. Além disso, os próprios funcionários do IEEP deixam para comprar os produtos no final, então dificilmente há sobra.
A partir de um olhar como profissional do Instituto, Fernanda explica que a importância desse projeto para os produtores, além da questão do valor que o Instituto paga, há também o respeito à produção agroecológica que é totalmente artesanal que não vai nada de veneno, nenhum tipo de agrotóxico.
Ela usa como exemplo a produção de repolho que é totalmente diferenciada, pois o índice de agrotóxico que vai neste produto é muito alto, assim como no pimentão que é um dos primeiros do ranking no uso de defensivos agrícolas. Porém, todos os alimentos vendidos na feira são totalmente livres de pesticidas. "O valor que a gente agrega neste produto é algo importante, pois valoriza este tipo de produção. Se o agricultor for vender sua produção em um mercado convencional, eles vão querer comprar por um valor bem menor que pagamos e vão agregar um preço que chega ao triplo", explica. Para os agricultores, o principal benefício é a geração de uma renda justa, provinda de uma economia solidária "e estão ajudando a produzir alimentos saudáveis para um público urbano", diz Fernanda.
O agricultor Paulo dos Santos Lima, que faz parte de um dos grupos que fornece alimentos para a feira, conta que há até cerca de quatro anos plantava fumo, mas, graças às sanções que a fumicultura vinha sofrendo, decidiu partir para outro tipo de cultivo. "Formamos um grupo de agricultores e passamos a comercializar frutas e legumes", conta. Além disso, Lima conta que a saúde também foi fator determinante para essa troca, pois o uso de agrotóxico não é prejudicial apenas para os alimentos, mas também para aqueles que os cultivam. "Não só a minha saúde, mas também dos que compram meus produtos", explica o agricultor.



Evolução agroecológica
O Instituto Equipe de Educadores Sociais tem 19 anos de atuação em Irati e região. Inicialmente, o IEEP trabalhava formando e capacitando agricultores que trabalhavam com fumo e com agricultura comum, com uso de agrotóxicos. Aos poucos, foi acontecendo um processo de adaptação dos produtores e propriedades para a agricultura agroecológica.
Hoje são mais de 200 famílias vinculadas à Associação Assis que, além de comercializarem com o IEEP, também vendem sua produção para o PAA e PNAI. "Esse é um trabalho realizado pela Associação Assis, que é nossa parceira", afirma Fernanda Popoaski.
Através desse anseio que o Instituto tinha de fixar um ponto fixo de comercialização, os responsáveis do IEEP foram buscar parcerias com a Prefeitura Municipal de Irati e através de um projeto com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) foi conseguido o espaço físico onde hoje é a sede do Instituto.


 

Texto e fotos: Guilherme Capello, da Redação


Publicado na edição 660, 27 de fevereiro de 2013.