Educação, o Círculo de Pais

Os baixos níveis da educação, uma tecla batida e muito. Evidente, o nível superior seria o primeiro responsável pelos demais níveis, pois lá são formados os profissionais da área, se a educação não fosse, ainda, resultado do nível cultural da família e da comunidade. Uma universidade deveria ser espaço de criatividade e seus mestres, estudantes permanentes como em todos os níveis. Repetir os conhecimentos acumulados, embora fundamental, não é tudo, apenas início do processo; e fundi-los e reinventá-los, atitude de sabedoria. Entretanto, sou do tempo em que em Irati existiam seis professores com faculdade. A maioria das professoras nas escolas do ensino primário, não tinham escola normal ou sequer normal regional. Normal regional? Sim, Erasmo Pilotto foi o Secretario de Educação que instalou dezenas de escolas normais regionais, a nível ginasial, de 1º grau. Em Rebouças havia uma regional, que presidi a substituição, como Inspetor Regional, para 2º grau, em 1965. Nesse ano instalamos lá, onde existia apenas o primeiro grau, o ensino técnico em contabilidade. Em Irati, desde 1947, eram duas as normais de 2º grau, a N.S. das Graças e a Braz Calderari. Em 1964, a cidade possuía um curso ginasial, no Colégio Estadual São Vicente de Paulo, dependência feminina no Colégio N.S. das Graças. Em 1967, instalamos o Ginásio N.S. das Graças, tornando-o independente do São Vicente. Nesse ano iniciamos articulações visando a instalação da sonhada faculdade em Irati. Mas em 1976, a escola normal, que havia sido estadualizada em 1961, passou para o São Vicente, em virtude da Lei n.5692/71, decreto n.2006/76, o complexo de segundo grau possível no município. No início de 1964 iniciamos em Irati e região, a instalação das Associações de Pais e Mestres. Nessa época, Maria Junqueira Scmidt, autora da proposta dos círculos de pais e mestres, veio a Curitiba, a convite do Centro de Estudos e Pesquisas Educacionais da Secretaria da Educação, falar sobre o tema de seu recente livro. Mas como a lei do Sistema Estadual de Ensino mencionava APM, as associações foram sendo confundidas com os círculos. Eis o primeiro momento de apelo à união escola e família. O tempo passou, as APMs se tornaram realidade em todas as escolas. E desde 1998, na chefia do Núcleo Regional de Educação, presidi a regularização de todas as AMPs da região, tornando-as com personalidade jurídica e registro no Tribunal de Contas para que pudessem receber os recursos do programa Dinheiro Direto na Escola. Pequenas verbas segundo a matrícula de cada escola, sem intermediários. As APMs depois se transformaram em APMFs, entidades de apoio administrativo escolar. Elas deveriam ter em anexo, presidido pelo seu vice presidente, os círculos de pais e mestres, com atribuições pedagógicas. Apesar da longa motivação dessa proposta, ela ainda não ocorreu. A principal e única função da escola não é pedagógica? Na APMF os assuntos são administrativos, apenas de apoio ao pedagógico. No círculo, o processo ensino aprendizagem, a sala de aula. Toda reunião escolar com as famílias deveria ter dois tempos, o tempo administrativo e o pedagógico. E ainda, todos os órgãos dirigentes da educação, além das escolas, deveriam possuir planos de trabalho amplamente divulgados. Como poderá haver apoio da família à escola sem a definição dos objetivos visados? E para encerrar, quem muito diz sobre a precariedade da educação hoje, não conheceu o momento em que as escolas eram, muitas vezes, quase comitês eleitorais, e não havia estímulo à escolarização. As avaliações escolares de hoje demonstram evolução. Mas como avançar segundo a exigência da sociedade tecnológica, sendo o professor, entre quinze profissões de nível superior, aquele que recebe os menores salários? Sem dizer sobre a relevância social de suas atribuições. Num Congresso abundante de contraventores, os planos de educação se arrastam adormecidos indefinidamente. Até quando? Quando a bancada ruralista, a evangélica, a dos estados produtores de petróleo em alto mar e a base aliada em terra vão acordar? Reclamar da educação escolar e silenciar diante das lições de sexo explícito que a TV Globo garante às crianças, uma tvzona, tem sentido? Apoio à escola, sim, sempre, é o caminho.



José Maria Orreda


Publicado na edição 660, 27 de fevereiro de 2013.